Como o título já indica, o livro
a qual passei três semanas para ler foi A
insustentável leveza do ser, do Milan
Kundera. O motivo perpassa por diversas ordens, seja do tempo, seja também
pelo fluxo de leitura que o próprio livro permite. Por se tratar de uma obra fragmentada, é muito difícil manter a
ordem cronológica de início, meio e fim. Isso, particularmente, me dificulta a
leitura, apesar de ser, sem sombra de dúvida, uma obra invejável. Não é a toa que muitos elogios surgem.
O autor é tcheco, nascido em 1929 e está vivo, diferentemente dos
outros que eu li recentemente. Além disso, sua pessoalidade dentro do livro,
sem ser invasiva, é um detalhe, mas que, pessoalmente, faz toda diferença. Sua
experiência com a Guerra Fria, do contexto tcheco e seu grande conhecimento
cultural enriquece demais o livro. A(s) história(s) se desenvolve, no meio da
invasão russa a Tchecoslováquia, com quatro personagens principalmente: Tomas, Tereza, Sabina e Frank.
Tomas é cirurgião e eu acho que é o personagem mais elaborado de
toda obra. Ele deixa a primeira esposa e filho
e se aproxima de Tereza, uma
jovem garçonete. Ele já tinha o costume de ter relações sexuais fora do
casamento, mas percebe em Tereza algo diferente, que o obriga uma acolhimento
diferente. O autor até usa a
expressão de que ela fora levada pelas águas, como Moisés e outras figuras
conhecidas, até ele. Uma das mulheres em
que Tomas as vezes se encontra é Sabina,
pintora de personalidade forte. Ela, entretanto, tem um outro caso amoroso,
muito mais longo do que com Tomas com Frank,
um professor universitário cuidadoso, que também tem uma esposa e uma filha.
Este é o aparato mínimo que se deve conhecer sobre a história. A partir disso,
os personagens são elaborados por
seus sentimentos, questionamentos e formas
de se posicionar, se mesclando com a própria visão do autor nos mais
diversos temas possíveis:
sexualidade, política, religião, amor etc. O autor, brilhantemente, mescla
tanto ele, quanto os personagens junto com grandes intelectuais da área da música, literatura e dos mitos, fazendo o
próprio leitor pensar, junto com a história.
Apesar da visível capacidade do
autor, a linguagem é muito agradável
e possibilita que todo uso de termos filosóficos, da música ou de outros
conhecimentos seja de fácil absorção
durante a leitura, sem ser forçoso. Mesmo para pessoas como eu que não gostam
muito de filosofia, acaba se tornando muito leve e aproveitoso, sem que seja
algo que repele no livro.
Outro fator, como citei antes, é
a fragmentação do livro. O início do
livro não é o início da história, da mesma forma como o meio e o fim. É
dividido em capítulos a qual possui pequenos trechos que se completam como um
quebra cabeça. Porém, é interessante
frisar que não há nenhum interesse para que se possua todas as peças.
Alguns momentos, se cria a inferência e, mesmo momentos que são um pouco fora
da história principal, nunca são inúteis. Sem dúvida é de se parabenizar o
autor que consegue construir muitas histórias paralelas sem ter enrolação.
E, de fato, é um autor brilhante. Não se tornou meu
livro favorito, nem me fez emocionar demasiadamente, nem tocou em momento
nenhum a assuntos que me são pessoais. Nada justifique que o livro em si seja
meus favoritos, mas o autor, por sua consistência na forma que se desenvolve a
obra, a maturidade e conhecimento, é, claramente, um dos melhores que já vi.
Provavelmente, me verei lendo outros livros dele, mesmo não me interessando
profundamente por seus temas, mas por
sua capacidade.
Enfim, recomendo muitíssimo e
aposto que, para muitos, será o livro favorito de todos os tempos.
Um abraço e boas leituras!
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