A Brincadeira - Milan Kundera

Olá, leitores!

Eu retornei com um livro lido para comentar com vocês. É o A Brincadeira de Milan Kundera, autor da Insustentável Leveza do Ser. Como dito no post anterior, é a primeira obra dele e durante sua leitura se percebe diferenças, mas também sua personalidade bem claramente.

"Nós vivíamos, Lucie e eu, num mundo devastado; e porque não soubemos nos apiedar dele, dele nos desviamos, agravando assim sua infelicidade e a nossa. Lucie, tão amada, tão mal-amada, foi isso que você veio me dizer no fim desses anos? Implorar compaixão por um mundo devastado?" (p.396)

O livro começa quando Ludvik retoma a cidade de sua infância e, ao andar com seu "amigo" Kotska, é convidado a ir numa barbearia aonde encontra Helena, uma mulher que conheceu há muitos anos que, na época, se chamava Lucie. Assim, o livro retoma ao passado de Ludvik e faz a trajetória de sua vida que se deve graças a uma brincadeira mal-interpretada. 
Quando universitário, filiado a União de Estudantes que tinha relação com o Partido Comunista, ele se interessou por uma menina chamada Marketa. O livro a descreve como uma pessoa sem senso de humor e demasiadamente séria. Durante essa aproximação dos dois, precisaram ficar distantes por longos meses e trocavam cartas cotidianamente. E, durante essas cartas, ele escreveu brincando com ela: "O otimismo é o ópio do gênero humano! O espírito sadio fede a imbecilidade. Viva Trotski!".
Mas, essa carta foi parar na mão do partido e ele foi expulso da faculdade e de seus cargos que possuia. Por isso, teve que virar soldado no grupo negro (dos suspeitos para o comunismo) e, por um acaso, conheceu Lucie a qual teve uma história confusa e intensa de amor.

A história é interessante e tem a personalidade de Kundera por diversos motivos. Primeiramente porque não é romântico, nem um pouco. Ludvik reencontra Lucie em Helena e não tem o menor interesse em ser o amor de sua vida. Helena está num casamento fracassado e implora para que Ludvik fique com ela. Curiosamente, não dá para saber se ela o reconhece como o mesmo Ludvik de sua juventude. A leitulra é fragmentada em partes maiores (capitulos) e menores (subcapítulos) dando um fluxo similar, mas não igual, à Insustentável Leveza do Ser. 

Fora os personagens secundários que são maravilhosos. Jaroslav, os outros soldados, Jindra, Zemanek e o Kotska que, sem dúvida, é o meu personagem favorito. Ele é pacifico, imersos nos seus ideais comunistas e na sua fé cristã quando conheceu Lucie no campo e foi o único que verdadeiramente a ouviu e conhece quem ela é. Ele, para mim, é incrível (claro, porque sou estudante de Teologia e cristã).

"Estou absolutamente certo de que a linhagem espiritual que se vale da mensagem de Jesus conduz a igualdade social e o socialismo de modo muito mais natural. E quando me lembro dos mais ardentes comunistas do primeiro período socialista em meu país, como por exemplo o presidente do Comitê, que entregou Lucie em minhas mãos, essas pessoas me parecem muito mais próximas de zeladores religiosos do que de discípulos de Voltaire cheios de dúvidas. O período revolucionário depois de 1948 não tinha muita coisa em comum com o ceticismo nem com o racionalismo. Era o tempo da fé coletiva. O homem que, aprovando-a, caminhava com a época era habitado por sensações muito próximas daquelas que a religião proporciona: renuncia a seu eu, a seu interesse, a sua vida particular, por alguma coisa de mais elevado, de suprapessoal. É claro que as teses do marxismo tem uma origem profana, mas o alcance que lhes atribuiam era comparável ao alcance do Evangelho e dos mandamentos bíblicos."

A última cena do livro não é muito emocionante, mas o autor não se propõe a que seja. Mas, perto do final, as histórias se reunem e se aglomeram de modo que faz a grande crise que perpassa todo o livro: as angústias de Helena.

Então é um livro que eu sugiro muito a leitura porque, realmente, Milan Kundera é genial no que faz. É claro, não é tão elaborado quanto a sua grande obra, mais a posteriori, mas para quem gosta de uma história boa, bem escrita, coeza e interesse, é uma boa pedida!

E, já vou dizer: não lerei mais um romance até o final do ano. Maaaaas... Tenho planos para o Projeto Me Livrando e algumas surpresas! Esperem e verão!

Boas leituras!

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